Djico n.m. passeio, volta. Tem origem no verbo kudjika, "virar, dar uma volta", das línguas tsonga, faladas em Moçambique.

21.4.11

Tu(ga)




Vejo Portugal como um amigo, longe fisicamente mas perto do coração. E talvez precisamente por essa razão, consigo subir à montanha e observar de longe o que se passa no meu país. Espero que ninguém fique ofendido, mas é assim que penso...


Zeca e o Portugal de hoje
Ao rever aquele que foi o último concerto de Zeca Afonso, em 29 de Janeiro de 1983, percebo como os tempos são diferentes, como as dificuldades são outras.
Apesar de neste momento Portugal ser um país desgovernado, com mais de 600 mil desempregados e as taxas de juro a subir, apesar do meu país ser mais pobre que eu, que graças a Deus e ao meu esforço não preciso de pedir dinheiro a ninguém, apesar de, segundo as estatísticas, os cidadãos portugueses terem um poder de compra 20% abaixo da média da União Europeia, ao procurar imagens de uma das últimas manifestações em Portugal, vejo jovens com casacos em pele, camisolas de boa lã e roupa de marca, tão diferente da que o povo usava em Janeiro de 1983.
Claro que temos de evoluir e não ficar satisfeitos ou conformados porque temos um pouco mais que há 20 anos trás. O problema, como bem sabemos, está nas prioridades que hoje temos.
Tenho amigos endinheirados, arremediados e desempregados e todos eles, sem excepção, vão almoçar e jantar fora, viajam pelo mundo e vão a concertos e espectáculos que esgotam, apesar do preço dos bilhetes não ter um valor 20% inferior ao praticado na União Europeia.
Actualmente, o Banco Alimentar recebe pedidos de refeições por e-mail, de quem não tem nada para comer mas a quem não falta dinheiro para pagar a internet.
E apesar de sermos um país com fome, experimentem passar à hora de almoço, pela zona dos restaurantes, num dos sempre cheios centros comerciais, e descubram que nem eles nem nós comemos tudo, há sempre restos desperdiçados no prato.
Andou o Maslow, há 50 anos atrás, a construir uma hierarquia de necessidades e mal sabia ele que as prioridades básicas iam deixar de ser as físiológicas e passariam a ser as necessidades de status, estima e auto-realização que ele colocou bem no topo da pirâmide.
Acho que se hoje o Zeca cá estivesse, cantaria qualquer coisa assim: “eles comem  quase tudo, eles comem quase tudo, eles comem quase tudo mas deixam-nos a roupa de marca”.

Malangatana


Moçambique perdeu um dos seus maiores artistas. Pintor, escultor e até poeta, a arte de Malangatana está presente também em Portugal, com esta escultura que embeleza a cidade do Barreiro.
Faço minhas as palavras de Mia Couto: “O país chorou e, com verdade, Malangantana.  (...) Na verdade, Malangatana Valente Ngwenya produziu tanto em vida e produziu tanta vida que acabou ficando sem morte. Ele estará para sempre presente do lado da luz, do riso, do tempo.”

Quero Ser Tambor


Quero Ser Tambor

Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra.

Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!

José Craveirinha

Craveirinha


José Craveirinha é considerado o maior poeta moçambicano. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões. Colaborou em diversos periódicos como jornalista e, na sua autobiografia, descreve-se assim:
«Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres. (...) A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros. (...) Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas da noite.»

Palhota


Recentemente fiz um anúncio com várias palhotas e lembrei-me de as homenagear. Sim, são frágeis, pouco resistentes, deixam entrar, frio, calor, chuva. Mas também deixam entrar céu, brisa, vida. Não, não conseguia viver numa. Mas quem lá vive, fica mais ligado ao mundo.

Beleza Natural


Sabem qual é o segredo das mulheres africanas para parecerem sempre mais jovens que nós, mulungas? (= brancas) O pó de mussiro, feito de um arbusto, que principalmente as mulheres da étnia macua colocam no rosto, para cuidar da pele.
E depois não digam que não dou boas dicas. :)

Life Goes On





Há dias fomos ver uma exposição de um jovem moçambicano, recentemente premiado no BES Foto e gostámos muito, embora não saiba se gostar é o termo certo...
O fotografo chama-se Mário Macilau e nasceu durante a fase mais crítica da guerra civil moçambicana, numa família com grandes dificuldades financeiras. Aos 10 anos já trabalhava e só conseguiu a sua primeira máquina fotográfica em 2007, que trocou pelo telemóvel da sua mãe...
A exposição que fomos ver, intitulada “Life goes on”, denuncia uma das mais duras realidades em Moçambique: o dia-a-dia das pessoas que vivem na lixeira de Hulene. Esta lixeira, a 7 quilómetros de Maputo, é um meio de subsistência para muitas crianças orfãs e para muitas famílias que perderam as suas casas durante a guerra ou durante as inundações de 2000.
Bonitas fotos de uma realidade horrível...

O pão e a exposição


Uma das principais Galerias de Maputo (do Instituto Camões) fica na rua onde moramos. Ao fim-de-semana, quando vamos comprar pão, aproveitamos para alimentar também o espírito e espreitamos sempre a exposição. Desta vez foi uma sinfonia de cores de quatro artistas moçambicanos.

Primeira ou segunda mão





Enquanto as mãos trabalham, a cabeça descansa. Numa altura de tanto trabalho na agência, os fins-de-semana preenchidos com cozinhados, limpezas, arrumações e as temperaturas insuportaveis lá fora, este é a melhor escapadinha. Um porta-moedas reciclado e uma bolsinha em primeira mão.

Dar uma mão






Ele foi discípulo de Malangatana e actualmente apenas pinta para os amigos, pois a sua profissão no ramo automóvel, deixa-lhe pouco tempo para a pintura.
Podia ser assim, mas a realidade é outra.
Ele é discípulo da vida, não pinta porque lhe falta material e tempo para o fazer, pois são os carros que lava que lhe permitem sustentar (mal) a família.
O Mateus costuma estar na rua onde moro e conheci-o num dia em que havia mais fome que trabalho. Descobri a sua veia artística depois de alguma conversa e de umas folhas e lápis oferecidos. Ajudo-o comprando algumas das pinturas e dando-lhe a esperança de que um dia terá uma exposição sua, o que nem seria díficil, se a ficção fosse a realidade.

Dar outra mão




Foi uma manhã de Sábado diferente, em que fui à MAPS (Mozambique Animal Protection), uma organização de apoio a animais abandonados. Passeei o Wolf (o das orelhas roidas), a Carmem (a da coleirinha vermelha) e ajudei a pintar uma parte do canil. Cheguei a casa com pintas de tinta e com cheiro a cão, mas valeu a pena.

Mais Ão, Ão




Chama-se Jack, é o fiel amigo de um colega de trabalho e passou 3 dias de férias lá em casa. No primeiro dia conhecemos-lhe os dentes todos e ficámos sem perceber quem é que tinha mais medo de quem. Mas a partir do segundo dia já eramos os melhores amigos, com direito a beijinhos, colo e brincadeiras.

Laços e fitas


Por maior que seja a distância, quando realmente queremos, os laços mantêm-se. Uma amiga que se dá ao trabalho de me enviar uma fita de fim de curso, só pode ter uma dedicatória especial, com uma imagem local. Lili, espero que gostes.

Nova Golo





A nova Golo já tem quase dois meses (e algumas infiltrações...) mas ainda não mostrei aqui como está bonita. Acho que é por isso que agora passo lá tanto tempo...

Golos









Estou sempre a dizer que a Golo está a ocupar os meus dias, mas a maioria não faz ideia do que ando a fazer. É hora de mostrar trabalho. Faz favor de vaiar ou aplaudir.

Tele Golos


Mais Golos, desta vez dos que passam na TV.

Audio Golos

Não consigo inserir os spots de rádio... :(
Caros ouvintes, segue-se um curto intervalo sem publicidade.

Bolos


Que eu sou gulosa, já quase todos sabem.
Que o Sérgio também, só alguns já sabiam.
Que todas as semanas faço um bolo diferente, é melhor não contar a ninguém...